Irado, abriu a porta do hotel e deparou-se com um vasto corredor. Não tinha mais nada para comer! Queria, desesperadamente, outro chocolate daquela máquina próxima ao elevador. Mas, ao ver a distância que teria de percorrer, abortou a ideia.
Ademais, estava escondido. Não queria dar sopa. Roubara o patrão para ter o luxo que sonhava. Desviara milhões e gastaria apenas com o próprio ego. Dividir? Nem pensar! Agora, rico, não precisava invejar os outros.
Quando deslocou de leve a maçaneta para voltar ao aposento, um susto. Tudo estava transformado! Era um campo aberto. A grama, marrom com a seca, apresentava pequenos pontos de queimadas. Fumaça que se concentrava em ir apenas ao alto. Não ventava. A única brisa presente vinha do bater de asas de dezenas de urubus que sobrevoavam o sítio.
A princípio, ninguém por perto. Estava só. Ao lado direito, um grande galpão que se assemelhava com a fachada do hotel onde se hospedara. Porém, abandonado. Portas de madeira caindo, animais peçonhentos perambulando e uma enormidade de cadeiras de plástico enfileiradas.
Deslocou-se para tentar ver. Porém, foi interrompido. Uma fila de homens maltrapilhos se formava para passar e adentrar o corredor de frente do galpão, em formato de rampa. Todos em silêncio sepulcral. Até que um parou.
Aproveitou a oportunidade para perguntar um “aonde estou?” quase sussurrado.
– Não está em lugar algum – respondeu a figura, sem ter qualquer tipo de reação. Explicou-lhe que ali, na verdade, era o limbo.
– Não pode ser! Estou vivo, bem de saúde e tenho tudo o que podia querer! – exclamou, assustado.
– Exatamente. Bem vindo ao limbo em vida: o nome dele é solidão.